O Ressuscitado, nossa companhia
O relato do evangelho [...] dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35) faz-nos ver o quanto importante é a
consciência clara de que o Ressuscitado é pilar e fundamento de nossa vida.
Podemos ver isto a nível intelectual, mas sobretudo o grande mistério de nossa
fé: Ele está vivo e caminha sempre conosco. De fato, nós somos cristãos quando
acolhemos em nossa vida, no caminho de iniciação à vida cristã, o anúncio
fundamental, primeiro, mais importante, o fundamento, qual sol que tudo
ilumina: o Crucificado é o Ressuscitado, Jesus de Nazaré é o Cristo, nosso
Salvador. Lembrava-nos há poucos dias, nosso Papa, que este “é o anúncio
principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e
aquele que sempre se tem de voltar a anunciar duma forma ou doutra. É o anúncio
de um Deus que ama infinitamente cada ser humano, que manifestou plenamente
este amor em Cristo crucificado por nós e ressuscitado na nossa vida” (QA 64).
Nas afirmações de nossa fé cristã, sempre se procurou
conjugar a verdade da existência das pessoas. Uma coisa é dizer que Cristo
venceu a morte, outra é dizer que no caminho da nossa vida, antes mesmo que
viéssemos ao mundo, temos alguém que olha por nós, que nos acompanha sempre.
Temos uma companhia. Não basta somente afirmarmos que Ele caminha conosco, que
é a Luz que tudo ilumina, mas é preciso tornar existencial, acolher, deixar que
possa integrar toda a existência. O tempo pascal tem esta característica
própria. Basta ver como foram os grandes discursos dos apóstolos, cheios do
Espírito Santo, moviam multidões: “A este Jesus, Deus o ressuscitou, e disso
nós todos somos testemunhas” (At 2,32). As pregações apostólicas não eram
somente explicações teóricas, que depois viriam, mas exortações existenciais.
Alguém é por nós. Ele nos amou intensamente. Ele viveu servindo. Ele foi morto
injustamente numa cruz. Seu amor nos perdoou e renova nossa vida!
Claro, ao olharmos o caminho realizado pelo Ressuscitado
com os discípulos vemos, ao menos, quatro movimentos, que indicam esta sua
presença. Primeiro a atitude de Jesus de caminhar com os seus, de ir ao seu
encontro num momento de muito sofrimento. E agora, quem é por nós? “O que foi?”
(Lc 24,19), perguntou Jesus. O Senhor vai ao seu encontro, caminha com eles, os
escuta atentamente, não os interrompe. Só num segundo momento provoca o diálogo
através da Palavra: “Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso para
entrar na sua glória?” (Lc 24,26). Será sempre a Palavra o lugar primordial, o
anúncio fundamental, acompanhado do testemunho. São Paulo, dizia: “Como crer se
ninguém anuncia? (Rm 10,14). A Palavra não é um curso que fazemos, mas uma luz
para caminhar. Ela tem a capacidade de “aquecer o coração” (Lc 24,32). Aqueles
que partilham a Palavra se fazem amigos. E Jesus é convidado a conviver: “fica
conosco” (Lc 24,26). Como faz bem ver os irmãos convivendo e partilhando a
vida!
Porém,
o primeiro anúncio, ainda continua. Ele conduz à Eucaristia, centro de nossa
vida de fé. Nela, o Senhor Ressuscitado está presente sempre. “Tomou o pão,
pronunciou a bênção, partiu-o e deu a eles” (Lc 24,30). Na Eucaristia o
Ressuscitado se dá a conhecer. É o grande mistério católico! Abre nossos olhos
e nós o percebemos tão próximo. Enfim, o último momento deste caminho de
anúncio é a partida para Jerusalém, para anunciar aos outros irmãos sua única
experiência. O primeiro anúncio é sempre o mesmo, mas ele deve ser repetido
toda a vida.
No comments:
Post a Comment