Deus
e o sofrimento humano
Dom Adelar Baruffi
Deus é amor e o único caminho escolhido por Ele é amar.
Deus não envia o sofrimento e o mal, mas continua sempre a amar, mesmo nas
situações mais difíceis. Diante do sofrimento, sempre existente na humanidade,
e, no nosso tempo se tornando mais intenso, nos perguntamos: vale a pena crer?
O que Jesus Cristo nos ensina? Como Deus se porta diante de tanta dor? As dores
podem ser de muitas maneiras. Podem ser interiores, do sentido da vida (basta
ver a quantia de suicídios de jovens), por traumas, por situações econômicas
num mundo que a marca é dada pelo consumo, por desentendimentos familiares ou
por tantos outros pontos.
O principal ponto situa-se na compreensão do sentido da
vida. Uma vida excessivamente centrada em si mesmo, abarrotada pelo consumo,
enquanto outros não têm esta possibilidade, produz pessoas sofredoras.
Perguntemo-nos: quando a pessoa tem o suficiente para ser feliz e não sofrer? O
excesso de positividade, as exigências de poder render sempre, produzem uma
carga de sofrimento e estresse. Por outro lado, temos os sofrimentos frutos de
uma doença, que não pede licença e chega. Ele desinstala. Então, qual o centro
da vida? Amar e sair de si para servir. Eis o centro da vida humana. Amar
sempre e em todas as situações. Sair de si para servir, pois o amor se
concretiza ao voltar-se para fora de si mesmo, para os outros, sobretudo a quem
mais sofre.
Faz-se necessário a educação humana e cristã para este
estilo de vida. Antropologicamente não somos perfeitos, temos falhas e
dificuldades. Isto carregamos sempre e podemos ferir os outros. Na vida cristã,
olhamos o grande mistério de Deus, que só sabe amar. Por amor Ele nos criou e
sempre nos acompanha em nossos passos. Deus tem um amor antecipado por nós.
Claro que o importante é saber acolhê-lo. Deus nunca é indiferente ao
sofrimento humano, seja qual for o seu modo, mas Ele sofre junto. Sim, Deus
sofre porque ama-nos. Basta olhar como Deus agiu na Sagrada Escritura. Ele toma
partido conosco. E se ele fica irado é exatamente porque não é indiferente. O
Senhor disse a Moisés: “Eu vi a humilhação de meu povo no Egito e ouvi seu
clamor por causa da dureza dos feitores. Sim, eu conheço os seus sofrimentos.
Desci para livrá-los da mão dos egípcios [...]” (Ex 3,7). De fato, Deus, por
amor à humanidade, envia seu Filho ao mundo: “De tal modo Deus amou o mundo,
que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas
tenha a vida eterna, pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o
mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele” (Jo 3,16-17). Assim, não
é a cruz que salva, nem o sofrimento, mas o amor de Jesus Cristo. Na cruz,
Jesus diz: “Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
Ao amor divino responde-se de dois modos. O primeiro é um
ato de gratidão a Ele. A melhor palavra, diante do Crucificado-Ressuscitado é
dizer “obrigado, Senhor”. Saber e sentir-se amado, pessoalmente. Uma pessoa não
coloca sua vida na humilhação e no negar-se a si mesma, mas a comunhão com Deus
se dá no amor, a liberdade de doar a vida, aceitando também os sofrimentos. O
segundo modo, o mais cristão, é estender a mão, a proximidade, o ouvir, a
presença e o comprometimento. É o contrário da indiferença. A caridade, vivida
a partir da fé, é o centro de nossa vida. O sentir compaixão não resolve as
dores do outro, mas está do lado e caminha junto. Assim, Deus manifesta seu
amor. Não existe outro modo de Deus manifestar seu amor senão vindo ao nosso
encontro, habitando as dores da nossa existência. Aí sim, encontramos uma
esperança nova. Podemos e devemos dizer sempre, confia em Deus, Ele está
contigo.
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