Encontro 26: A Ressurreição de Jesus


RESSURREIÇÃO

 Pe. Eliseu Oliveira


A fé é a experiência do encontro com uma Pessoa divina que nos ama e dá sentido à todos os aspectos da nossa vida. É o encontro com o Filho amado, que nos revela o Pai, o amante, no horizonte do Espírito, o puro amor.

Mas no caminho e no centro deste encontro está um grito de dor, de desespero e de abandono: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc, 15,35; Mt 27,46) Está também a revelação da misericórdia e do perdão de um Deus que conhece a nossa fraqueza: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que estão fazendo!”(Lc 23,34). Antes da alegria da ressurreição, está a história da morte de quem entregou tudo, por amor. “Então Jesus deu um forte grito, e entregou o espírito” (Mt 27,50; Jo, 19,30; Cf. Lc 23,46).

Todos esses acontecimentos salvíficos fazem parte do evento traumático da cruz, que escandalizou o próprio Filho de Deus. No meio de sua angústia ele reza: “Meu Pai, se é possível, afasta-se de mim este cálice. Contudo, não seja feito como eu quero, e sim como tu queres” (Mt 26,19; cf. Mc 14,36, Lc 22,41). A cruz também infligiu um duro golpe na esperança dos discípulos, gerando-lhes uma crise de fé. Os discípulos de Emaús expressam essa decepção com as seguintes palavras: “Nossos chefes dos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte, e o crucificaram. Nós esperávamos que fosse ele o libertador de Israel, mas, apesar de tudo isso, já faz três dias que tudo isso aconteceu!” (Lc 24,21).

 Depois da ressurreição e da ascensão, os discípulos, tomados de euforia, tiveram a tentação de esquecer o evento da cruz, como aqueles que maquiam a realidade e escondem os momentos de sofrimento para viver um mundo em que só existe alegria e bem-estar. Por isso, na primeira carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo diz: “Entre vós, eu não quis saber outra coisa a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado” (1Cor 2, 2), pois no capítulo anterior ele explica que “a linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem. Mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus” (1Cor 1,18).

O sacerdócio de Cristo realizado na cruz é evento eficaz de salvação (Hb 8-10) e exemplo de humildade para todo cristão. São Paulo aos Filipenses, diz: “Tenham em vocês os mesmos sentimentos que  haviam em Cristo Jesus: Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2,5-8).

O Ressuscitado é o Crucificado e o Crucificado é o Ressuscitado. Não há, portanto, uma ruptura entre a mensagem do Jesus histórico e o Cristo da fé anunciado pelas primeiras comunidades. A ressurreição comprova que o Pai não abandona o Filho na morte, mas o resgata (At 2,32), na força do Espírito vivificador (Rm 8,11), confirmando a mensagem do Cristo, morto pela maldade do coração humano, de forma injusta e humilhante, e é também esperança para todos os injustiçados, humilhados, àqueles que, para o mundo, nada são: os muitos ‘crucificados da história’. Como refletiu São Paulo: “Mas o que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte. Deus escolheu o que no mundo não tem nome nem prestígio, aquilo que é nada, para assim mostrar a nulidade dos que são alguma coisa” (1Cor 1,27-28).

Celebrando a páscoa, não celebramos apenas a Ressurreição, a vitória da Vida sobre a Morte, mas o evento pascal como um todo, a morte-ressurreição-ascensão-vinda do Espírito Santo. A Ressurreição inaugura o tempo da Nova Criação, antecipação da Vida Eterna, onde estaremos em Comunhão com a Santíssima Trindade, motivo primeiro de Deus ter criado tudo o que existe; reconduzindo a criação ao seu eterno sábado, o sétimo dia da obra divina, depois de ter visto que “tudo era muito bom” (Gn 1,31).

A Igreja é o prolongamento da ação de Cristo-Ressuscitado, pois ela mesma é o seu corpo místico (Cf. Col 1,18; LG 7). O batismo nos incorpora a esse Cristo, quando somos assimilados em sua morte e ressurreição (Rm 6,4). Fazemos parte do povo de Deus, vivendo o amor fraterno, a caridade, a misericórdia, celebrando o mistério pascal, fazendo crescer a graça recebida nos sacramentos,  peregrinamos para a vida eterna, pois “a Igreja, à qual todos somos chamados e na qual por graça de Deus alcançamos a santidade, só na glória celeste alcançará a sua realização acabada, quando vier o tempo da restauração de todas as coisas (cfr. At. 3,21) e, quando, juntamente com o gênero humano, também o universo inteiro, que ao homem está intimamente ligado e por ele atinge o seu fim, for perfeitamente restaurado em Cristo (cfr. Ef, 1,10; Col. 1,20; 2 Ped. 3, 10-13)” (LG 48).


 

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